Cultura do estupro uma ova


A maioria dos brasileiros está chocada com o caso de uma garota que foi brutalmente estuprada – como mostram as notícias – por 30 homens. Todos precisam ser presos e mofarem na cadeia. O caso tem que ser concluído o quanto antes para prevalecer a Justiça. Estes monstros (e a classificação que uso para este tipo de criminoso é esta) precisam pagar pelo que devem.

Lamentável que as imagens tenham circulado. Recebi, mas nem quis ver. Deletei de imediato. Não é preciso assistir o repudiável para se ter noção exata dele, ficar revoltado, sentir a dor do próximo, se colocar no lugar da vítima e da família. Creio que a maioria dos brasileiros também concordam comigo.

Para mim, nossa legislação ainda é branda com os crimes hediondos. Creio que para boa parte da população também. Estupro é crime hediondo e ponto final. Tem que punir exemplarmente o criminoso. Não se pode aceitar o discurso de quem não enxergue a mulher como vítima. Ela é SEMPRE a vítima. É preciso se combater o crime sempre. Não pode ser banalizado jamais. Não se pode permitir jamais ISTO. Agora, isto é um ponto. Outro é colocar um crime destes como sendo algo aceitável em uma cultura. Não, ele não é!

Por isto, um ponto que tem me chamado a atenção é a defesa da tese de que existe uma “cultura de estupro” no país, ou então os discursos inflamados que – neste momento – colocam todo homem como um estuprador em potencial. É por estas razões que defendo o conservadorismo filosófico, que se preocupa – não por agenda política, mas pela reflexão profunda em relação à ordem social – com a base moral de uma sociedade, com sua tradição e com seus valores para que o mal não vença. Pois o mal existe! Digo isto pelo cuidado com o significado da palavra cultura, como mostrarei adiante.

Ora, o norte moral de nossa civilização jamais alçaria um crime hediondo ao status de uma cultura, um costume adotado e propagado como parte do conhecimento da sociedade. Ele é sempre repudiável. Tanto que é visto como hediondo.

É difícil definir cultura em função dos diversos contextos em que a palavra pode ser aplicada. Desde uma “cultura de células”, levando o significado para o campo da biologia, até o significado do que esta representa dentro da sociedade.

Gosto de um estudo do filósofo Miguel Reale sobre cultura, no qual (falo aqui de forma resumida), explica que uma cultura é aquilo que é produzido a partir do conhecimento de uma sociedade (por ordem espontânea), nas artes, na base moral de onde derivam leis, costumes, tradições e por aí vai. Ora, levando isto em consideração é um absurdo dizer que o país tem uma “cultura de estupro”, como se fosse facilmente aceito ou aprovado pela população.

A reação a este recente caso hediondo mostra justamente o contrário. Nossas leis, tratam o caso como hediondo. Ou seja: o mais grave dos crimes. Todo ser humano sadio, em pleno exercício de suas faculdades mentais, repudia o estupro, como repudia a pedofilia, como repudia o homicídio, a discriminação, pois é isto que se faz presentes no nosso conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais que – como diria o filósofo Ortega y Gasset – ditam o homem médio.

É tão arraigada esta noção que basta ver como são tratados os estupradores nos presídios. Os próprios criminosos veem este tipo de criminoso como um paria que não é digno de conviver com eles.

Agora, vamos falar de norte moral de uma sociedade. Nós, conservadores, queremos preservar um norte moral que garanta a evolução, a preservação da espécie, o respeito às liberdades individuais, a propriedade privada, o direito a legítima defesa, e a ausência de relativismos para se definir o bem o mal, com base em uma serie de costumes adotados pela sociedade ocidental. Dentre eles, os que possuem como alicerce os valores judaico-cristãos.

Sendo assim, uma sociedade ocidental que se apoia nisto mais do que ninguém repudia o estupro e o classifica como monstruoso. Fere a liberdade individual, contraria a base moral, nega à vítima o direito à defesa, enfim...uma violência indescritível que tem que ser punida de forma exemplar para nunca fazer parte de uma “cultura”, mas sempre ser reprovada, repudiada e extirpada do meio.

Logo, vejo esta posição muito mais sadia do que o excesso de progressismos que – dentre outras coisas – tem estimulado a sexualidade precoce dos indivíduos, desde a infância, como temos visto por aí. O relativismo moral – este sim – pode prejudicar a base de uma cultura e subverter valores ao bel prazer de uma agenda política. Não digo que este seja o caso, mas afirmo que aí é que mora o perigo.

O brasileiro sabe a gravidade do crime cometido e quer respostas urgentes por parte das autoridades. O brasileiro sabe que quem comete um ato tão hediondo não pode ficar impune. Isto sim é da nossa cultura. Tanto que cobramos punições mais graves para menores que se envolvem em atos assim por não suportarmos a injustiça com a vítima. E isto independente de sermos homens ou mulheres, depende de sermos justos e compreendermos claramente o que é certo e o que é errado.

Matar, roubar, estuprar, sequestrar é sempre errado e hediondo. É isto que se faz presente em nos costumes, nas nossas crenças, nas nossas leis. Não por acaso, a nação assiste de forma enojada tudo que vem ocorrendo na política. Claro que há os maus, que não se espantam com nada, que não sentem nada, que são verdadeiros sócio-patas, incapazes de refletir sobre a dor alheia e só agir em proveito próprio.  Mas, estes não se confessam assim. Mentem por saber que precisam enganar aqueles que possuem um norte moral definido. Ou seja: até estes possuem reconhecimento da cultura e agem se camuflando para fazer o mal e escapar da punição.

Não atribuam a cultura de um povo um mal que esta mesma cultura repudia e pede punição exemplar e até mais dura que aquela que está prevista nas leis vigentes. No mais, e isto para mim é óbvio, a mulher é sempre vítima. Divido aqui com vocês um texto do professor Adrualdo Catão: “Como alguém pode sequer cogitar que a culpa do estupro é da vítima? Como alguém pode ser tão vil e nefasto a ponto de ser condescendente com o agressor de um crime tão terrível? Eu custo acreditar no que leio de vez em quando...”

PS: sim, nossas leis ainda são brandas com este tipo de monstruosidade. 

Estou no twitter: @lulavilar

Título Original: Estupro: um crime hediondo e ponto final!
Postagem original em: http://www.cadaminuto.com.br/blog/blog-do-vilar/287556/2016/05/27/estupro-um-crime-hediondo-e-ponto-final-nossa-propria-cultura-mostra-isto