Empreender no Brasil



Suponha comigo que você tem 35 anos, 500.000 reais no banco e um Q.I. acima da média. O que fazer?

Você pode abrir uma empresa. É o que jovens com esse perfil e boas ideias costumam fazer em países mais civilizados, por exemplo. Na verdade, esse é o objetivo de vida mais cobiçado em lugares como EUA, Inglaterra e Austrália: abrir uma empresa, ganhar MUITO dinheiro e, no processo de ficar podre de rico, empregar dezenas ou centenas de pessoas e gerar bens e serviços que vão elevar a qualidade de vida de todos.

Mas vamos supor que você viva no Brasil. A média de lucro (a mais valia clássica, o retorno sobre o investimento do capitalista) vai de 3% a 5% (varejo), 6% (farmácias e drogarias), 10% (postos de gasolina) 11% a 13% (em alimentação e serviços), pra citar alguns exemplos. Isso quando o empresário não opera no vermelho, pagando do próprio bolso pra manter o negócio e, com ele, os empregos de seus funcionários.

Claro que não é só. Você vai gastar em média 2.600 horas por ano não fazendo o que você se propôs a fazer que é produzir bens ou prestar serviços, mas pra recolher os impostos, que vão incidir sobre o seu investimento ANTES que você tenha qualquer lucro. Em média, 40% do seu investimento vai pro governo; 24% vai pros trabalhadores; e, descontada a parte do banco (capital de giro, desconto de recebíveis, etc), a você será permitido ficar com apenas 7% do que gerou. 

Você será tratado como criminoso pela sociedade, será culpabilizado por tudo o que der errado no país e será constantemente fiscalizado e esporadicamente autuado por conta do descumprimento de alguma obrigação acessória que nem o seu advogado sabia que existia, mas que lhe renderá uma multa de 150%, além de juros de 1% ao mês e correção monetária. E claro, ocasionalmente seus funcionários o processarão, ainda que você tenha pago todos os direitos e obrigações, e sabe-se lá o que vai decidir o juiz do trabalho, que está lá na presunção de que você é um contraventor e o seu funcionário é um anjo. Depois de 3 anos, há 80% de chance de você estar falido, e com sua casa, carro e o que quer que tenha sobrado de seu capital inicial ameaçado por execuções fiscais e trabalhistas.

Não parece um prospecto muito bom.

Mas felizmente você vive no Brasil, e tem opções. Você pode emprestar aqueles seus R$ 500.000,00 ao governo, por exemplo. Uma aplicação no Tesouro Direto indexada ao IPCA rende hoje pouco mais de 18% ao ano, com liquidez semestral. Descontados os impostos, ainda sobra uns 14% limpo. Bem melhor do que os 3% a 11% que você obtém empreendendo e com risco praticamente zero: ao contrário do que se dá com o empreendedor, o governo te tratará como rei, porque o governo é incapaz de gastar menos do que arrecada e sempre vai precisar de gente como você para financiar o déficit endêmico. Ao final de 3 anos, você terá somado cerca de R$ 200.000,00 ao seu capital de R$ 500.000,00 (ajudado pela mágica dos juros capitalizados).

É bem melhor, né?

Ou então você pode empregar esse seu cérebro privilegiado e estudar para um concurso público. Salários de R$ 30.000,00, que a iniciativa privada só paga a altos executivos que tenham resultados pra apresentar e que estejam acostumados a viver sob intensa pressão, não são incomuns no funcionalismo, com o bônus de que você nunca será demitido, ainda que faça apenas o mínimo exigido, e, dependendo da carreira que escolher, será inclusive obrigatoriamente promovido.

É essa a flora exótica na qual vivemos: tudo a todo momento grita pra que você não crie, não empreenda, não empregue. Se acumulou algum capital, seja rentista. Se tem uma boa educação, seja funcionário público.

Vai dar certo sim, amigos.

Rafael Rosset