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Não temos que temer o fim da existência, mas sim uma existência banal



Comemorar não quer dizer sempre festejar. É possível comemorar o dia de finados. A ‘sobrevivência excessiva' traz dores, como a perda de muitas pessoas especiais.


Ouça Aqui:


Programa gravado em 02/11/2017



Citações:


"Ando inclinado para o lado esquerdo porque carrego no o peito todos os meus mortos"
Carlos Drummond de Andrade

"Eu não tenho medo de morrer, eu tenho pena"
Chico Anysio

"Não estou indo em direção ao fim, estou indo em direção as origens"
Manoel de Barros

"No juízo final o que me assusta não é o fato de ele ser final, é dele ser juízo"
Mario Sergio Cortella 



Onde estão os protestantes?

A dimensão contestatória é própria do Cristianismo. Em um manifesto pela renúncia de Eduardo Cunha, um grupo de evangélicos recria esta identidade

Por Magali Cunha
Duas segundas-feiras atrás participei do Fórum Laicidade e Intolerância, promovido pelo Penses/Pensamento Estratégico, da Universidade Estadual de Campinas. Pesquisadores, parlamentares e um jurista contribuíram com as reflexões de um tema que não é preocupação exclusiva da academia. Ele é foco de debate nos movimentos sociais, nas ruas, nas mídias, muito especialmente por conta da intensa visibilidade alcançada pelos evangélicos na política partidária.

No fórum, um consenso: a presença de grupos religiosos no espaço público é parte da História do Brasil e do mundo e é saudável numa democracia. Esta, pautada pela participação e identificada pela laicidade, deve garantir a liberdade de crença e de manifestação pública de todos os grupos, inclusive os religiosos.

A questão da intolerância emerge, relacionada à religião, não apenas quando grupos religiosos defendem no espaço público os textos e preceitos que lhes são sagrados como verdade única. Ela aflora quando religiosos atuam por meio do poder público, legislando ou travando leis, para impor a todos os cidadãos aquilo que julgam adequado para seus fiéis. A intolerância impede a realização plena do caro princípio democrático da liberdade de crença.

É fato que a bancada evangélica no Congresso tem uma plataforma antidemocrática, de controle dos corpos e de normatização de um modelo patriarcal de família. Isto realmente põe em risco o Estado democrático laico. No entanto, colocar as ameaças tão só na conta da bancada evangélica é limitar demais a discussão. A Igreja Católica permanece com privilégios concedidos pelo Estado brasileiro e dela também partem posturas intolerantes de controle de relacionamentos humanos e de corpos.

A atuação de grupos religiosos no campo político tem o seu lugar em nossa sociedade. Deve ser garantido o direito de manifestação de todos os segmentos sociais, desde que atuem nos limites constitucionais. Senão, aí teremos intolerância contra as religiões. Por isso, o Estado não pode ser neutro: deve intervir sempre pela garantia de liberdade e igualdade para todos os cidadãos. Assim se vive uma cidadania plural.

Um exemplo desta prática cidadã é um fato significativo que ocorre nesta semana em que se celebra os 498 anos da Reforma Protestante (31 de outubro). Trata-se do manifesto de representantes e membros de segmentos e de movimentos evangélicos pela “imediata saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha”, membro da bancada evangélica. O grupo apartidário que assina o texto facilmente encontrado nos espaços da internet é formado por bispos, pastores, pastoras e lideranças leigas de diferentes igrejas evangélicas de várias partes do Brasil. Os manifestantes se afirmam “como evangélicos que prezam a ética, a verdade e a justiça” e declaram “repúdio às ações do deputado”. Por isso, concordam “quanto à insustentabilidade da permanência (dele) na presidência da Câmara”.

Ao escrever sobre o “princípio protestante”, o teólogo luterano alemão do século XX Paul Tillich reconheceu que a dimensão profética, contestatória, protestante, é própria do Cristianismo, inspirada nas ações de Jesus de Nazaré. Para este teólogo, a Reforma foi a encarnação deste princípio; uma volta às origens do ser cristão. Eis aí, no manifesto pela renúncia de Cunha, um grupo de evangélicos que recria a identidade protestante tão fragilizada em nossas terras. Eis aí o fascinante poder transformador das crises. É como diz a expressão da Bíblia: “Esperando contra toda a esperança” (Carta aos Romanos 4.18). Ou a canção popular, também cheia de teologia: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.



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